Selecção e adaptação de Próteses Auditivas

Próteses Auditivas

Dr. Vasco de Oliveira

Desde o século XVIII, que se utilizam vários instrumentos com o objetivo de atenuar os efeitos nefastos da perda auditiva. A perda auditiva pode fazer com que o indivíduo apresente perturbações graves na sua componente social, psicológica e profissional.

Sentimentos de insegurança, depressão, isolamento e stress no ambiente familiar, bem como dificuldades na escolaridade, na aquisição de conhecimentos e na sua atividade profissional, são alguns exemplos.

A finalidade da prótese auditiva é a amplificação sonora, procurando a perceção dos sons do ambiente e da fala, sem que ultrapassem o seu limiar de desconforto. Será importante a intervenção do médico ORL para determinar a existência de eventuais contraindicações clínicas para o uso da prótese auditiva.

O papel do audiologista é igualmente indispensável nos diferentes aspetos da (re) habilitação – seleção e adaptação da prótese, treino auditivo, orientações quanto ao uso da prótese auditiva, bem como nas avaliações periódicas da audição e consequentes reajustes das próteses.

A decisão de procurar ajuda para a adaptação de próteses auditivas não é necessariamente feita com base no grau de perda de audição, mas sim de acordo com o grau de dificuldades que o indivíduo sente.

No caso das crianças, a adaptação das próteses auditivas deve ser efetuada o mais precocemente possível, após a realização do diagnóstico da deficiência auditiva, procurando minimizar os efeitos da privação sensorial sobre o desenvolvimento físico, emocional, e particularmente da linguagem.

Existem vários fatores que têm de ser ponderados na escolha da prótese auditiva mais adequada, como a idade, grau e tipo da perda auditiva, fatores físicos (diâmetro do canal auditivo e destreza manual), eficácia do processamento auditivo, necessidades profissionais ou de outro tipo, e a motivação para o seu uso.

Devemos preservar a audição binaural, pois permite melhor localização da fonte sonora, somação binaural, eliminação do efeito de sombra da cabeça, melhor capacidade em separar os sons dos ruídos do ambiente e melhor reconhecimento da fala na presença de ruído, pelo que sempre que possível se deve optar por uma adaptação binaural, com duas próteses auditivas.

Relativamente ao tipo de próteses, as retro-auriculares permitem compensar perdas auditivas de maior grau, apresentam menor probabilidade de desencadear feedback, compensam melhor o efeito de oclusão, e são de manuseamento mais fácil.

As próteses mais recentes, como as open-fit, apresentam um auricular mais aberto, permitindo ainda melhor resolução do efeito de oclusão, e menor desconforto para o utilizador, e as RIC (receiver- in- the-channel), em que o auscultador está dentro do canal, melhoram a qualidade acústica e previnem o aparecimento do feedback pelo afastamento do auscultador face ao microfone.

As próteses intra-auriculares, cada vez mais pequenas e versáteis, são uma alternativa válida, tendo a vantagem de não ter nada por cima do pavilhão auricular.

São mais confortáveis para quem usa óculos, e também mais discretas, dependendo a sua utilização do tamanho do canal auditivo externo do indivíduo.

Se nas próteses de processamento analógico tem de se optar, de acordo com a necessidade, por sistemas como o microfone direcional, sistemas de compressão (AGC/O; AGC/I; WDRC), entre outros, nas próteses de processamento digital, tais aspetos são controlados automaticamente pelo próprio sistema, de acordo com as características da perda auditiva e a programação de base.

Assim, o processo de seleção da prótese auditiva mais adequado deve ser efetuado em comum acordo com o utilizador, mas respeitando as suas características quanto à perda auditiva, aspetos físicos e necessidades específicas.

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